São Paulo/SP –  As férias e as altas temperaturas costumam transformar a casa em um cenário de brincadeiras improvisadas: barracas de panos montadas no meio da sala; em qualquer espaço, a criançada estica uma toalha no chão e faz um piquenique, etc. A criatividade é quase que infinita quando se trata de crianças. Mas, enquanto o ritmo desacelera para os adultos, o período contrasta com o aumento dos acidentes envolvendo crianças pequenas. Dados do DATASUS, compilados pela ONA – Organização Nacional de Acreditação, mostram que 3.613 crianças, de 1 a 4 anos, foram internadas por queimaduras no Brasil entre janeiro e setembro de 2025. O Nordeste lidera, com 1.109 casos, seguido por Sudeste (938), Sul (777), Centro-Oeste (527) e Norte (262).

Entre janeiro e setembro de 2025, o estado do Maranhão registrou 126 casos de queimaduras em crianças de 1 a 4 anos, ficando em 11º  lugar nas estatísticas no Brasil.

Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, sete em cada dez acidentes acontecem dentro de casa. A faixa etária de 1 a 4 anos é a mais atingida – reflexo de uma combinação que inclui curiosidade intensa, rapidez nos movimentos e pouca noção de perigo.

Cozinha: acidentes que acontecem em segundos – A maior parte das ocorrências acontecem com líquidos quentes, segundo a pediatra e membro da ONA, Mariana F. Falavina Grigoletto. No cotidiano das casas brasileiras, basta um cabo de panela virado para fora, uma xícara quente à beira da mesa ou panela recém-retirada do fogo, para que o risco se transforme em queimadura.

Em muitos atendimentos, explica a pediatra, o cenário se repete. “A criança puxa o cabo, tropeça no pano da mesa, esbarra no copo, mexe na cafeteira e tenta alcançar recipientes aquecidos. Todo cuidado é pouco com os pequenos”.

Embora menos frequentes, as queimaduras por chama ou líquidos inflamáveis costumam ser mais graves. “Dentre as queimaduras químicas, a ingestão de soda cáustica é a principal causa de queimaduras em crianças. Pilhas e baterias, quando ingeridas ou rompidas, seguem como ameaça silenciosa devido ao conteúdo corrosivo”, alerta a Dra. Mariana.

Tomadas, fios e sol forte completam os riscos – Choques elétricos também aparecem entre os acidentes mais comuns na infância. Tomadas sem proteção, fios desencapados e extensões improvisadas, muitas vezes passam despercebidos no ambiente doméstico.

No verão, o sol se torna outro vilão. Vermelhidão, dor e calor local são sinais de queimadura solar, mais frequentes entre 10h e 16h, período de maior radiação.

O que fazer quando a queimadura acontece? “Jamais use gelo, clara de ovo, manteiga, pasta de dente, pomadas, óleo de cozinha ou qualquer outra receita caseira sobre a área queimada. Esses produtos agravam a lesão e aumentam o risco de infecção”, alerta a pediatra.

A primeira medida recomendada é resfriar a área com água corrente fria, nunca gelada — por 10 a 20 minutos. Antes do inchaço, remova anéis, pulseiras e acessórios. “Roupas grudadas na pele não devem ser retiradas, pois podem arrancar tecido vivo; se necessário, corte apenas o que estiver solto. Se houver bolhas, não estoure!”, recomenda a Dra. Mariana.

É importante procurar atendimento de urgência se houver:

• Bolhas

• Febre, dor intensa ou pus

• Aumento de vermelhidão

• Queimaduras em rosto, mãos, pés e genitais

• Náuseas, sonolência ou desmaio.

Prevenção ainda é o cuidado mais eficaz – A maior parte dos acidentes poderia ser evitada com pequenas mudanças na rotina doméstica. Entre as principais recomendações da pediatra são:

• Evite segurar a criança no colo enquanto cozinha ou manuseie líquidos quentes.

• Mantenha fósforos, isqueiros e álcool fora do alcance das crianças.

• Vire os cabos das panelas para dentro.

• Priorize as bocas de trás do fogão.

• Evite que as crianças se aproximem de forno e fogão assim como ferro de passar roupa e chapinhas.

• Nunca deixe objetos ou líquidos quentes nas bordas das mesas

• Evite toalhas compridas que facilitem os puxões.

• Atenção ao micro-ondas: o aquecimento é irregular e pode gerar queimadura na boca

• Guarde os produtos químicos em locais altos e trancados.

• Tampe tomadas e redobre a atenção com fios soltos e desencapados.

• Descarte pilhas e baterias adequadamente.

• Teste sempre a temperatura da água do banho, antes de colocar a criança.

• Aplique protetor solar, reaplicando a cada duas horas, após mergulho ou suor excessivo.

• Evite exposição solar entre 10h e 16h. Use roupa leve, chapéu, óculos e acessórios de proteção.